Para denunciar a situação dos catadores e catadoras de lixo, foi lançado em 2006 o documentário “Estamira”, realizado pelo cineasta brasileiro Marcos Prado, o qual enfoca uma mulher do povo, catadora de lixo no Aterro Sanitário do Jardim Gramacho, situado na Baixada Fluminense.
A protagonista, a qual frequentou por muito pouco tempo a escola, adverte para o fato de que, é preferível não ser uma pessoa “normal” do que se enquadrar, hipocritamente, na vida burguesa banal. Ela é mãe de três filhos e reside sozinha, em um barraco de chão batido, do qual se orgulha, uma vez que o conseguiu com o seu trabalho de garimpar o lixo.
Conforme comenta Ramos (2008):
Em sua vontade de ser vista e ouvida, Estamira repete que veio ao mundo para “revelar a verdade”. Em seu discurso, através de metáforas, evidencia sua revolta e sua descrença em Deus. Ela o define de “poderoso ao contrário” e se julga mais sábia que Ele. Que Deus é esse? Que Deus é esse que só fala de guerra e não sei o quê? Não é Ele que é o próprio trocadilho? Só pra otário, pra esperto ao contrário, abobado, abestalhado. Quem já teve medo de dizer a verdade, largou de morrer? Largou? Quem andou com Deus dia e noite, noite e dia na boca ainda mais com os deboches, largou de morrer? Quem fez o que Ele mandou, o que o da quadrilha dele manda, largou de morrer? Largou de passar fome? Largou de miséria? Ah, não dá!
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Estamira |
Aparentemente psicótica, Estamira, em seus discursos apocalípticos, mostra uma lucidez impressionante. Como ela declarou as filmagens no lixão: “Existe a lucidez e a ilucidez. A gente aprende alguma coisa de tanto lucidar”. (FELÍCIO, 2010)
A organização dos catadores em associações e cooperativas no campo da economia solidária é um movimento social de resistência, o qual tenciona formalizar a coleta seletiva. Portanto, o desafio que está colocado hoje é o de realizar uma reflexão acerca das possibilidades de desenvolver práticas sustentáveis de economia solidária em mercados capitalistas, bem como da capacidade do MNCR de impor-se enquanto movimento social.
Com efeito, a organização de catadores em cooperativas representa uma alternativa às políticas de emprego convencionais e à busca de práticas de promoção da sustentabilidade ambiental com inclusão social.
É muito importante salientar o fortalecimento das redes sociais de apoio, os esforços de capacitação e de modernização tecnológica, assim como a necessidade de aproveitar o momento político favorável para consolidar as políticas públicas e os processos de capacitação, além de ampliar o espaço de barganha, tanto com o Estado quanto com a iniciativa privada.
Por fim, é preciso dizer que o atual modelo de coleta seletiva não é sustentável, além de não ter ainda consistência suficiente para se consolidar.
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Leonel Neto